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Foto: Mohamed Hassan en Pixabay

Ano de 2024, com muitas eleições, mas poucas expectativas de mudança

16 janeiro, 2024 | Ricardo Changala

A população de Taiwan, A população de Taiwan, a ilha onde são produzidos os chips, componentes-chave dos atuais aparelhos eletrônicos, votou no sábado dia 13 de janeiro, pela continuidade de sua política, o que augura um reavivamento de um conflito geoestratégico com a República Popular da China.

As relações oficiais entre o Governo central da República Popular da China e a sua província insular de Taiwan se quebraram em 1949, após a guerra civil e só foi apenas em 1980, quando Taipé e Pequim restabeleceram só a nível empresarial, sob o lema” um país, dois sistemas”. Essa é a razão por que Taiwan não é membro da ONU e que a grande maioria dos países do mundo não reconheçam relações oficiais diplomáticas com a ilha.

O candidato oficialista e nacionalista Partido Progressista Democrático, Lai Ching-se, venceu as eleições com cerca de 40% dos votos, apesar de ter perdido a maioria absoluta dos assentos no Parlamento, nas mãos do partido Kuomintang e o Partido Popular de Taiwan, Ko Wen-je que, em conjunto, conseguiram mais de 50% do apoio eleitoral. Pela primeira vez, nenhum partido conseguiu maioria parlamentar absoluta pela qual o diálogo político se impõe.

Alguns dias atrás, no dia 7 de janeiro, a República Popular de Bangladesh, que conta com mais de 170 milhões de habitantes, foi um dos primeiros países a ter eleições nacionais neste ano de 2024.

Como era mais do que previsível, a atual primeira-ministra ganhou o seu quarto mandato consecutivo, e o quinto no total, em um contexto em que o principal partido de oposição, o Partido Nacional de Bangladesh (BNP), boicotou a votação pela negativa do governante Liga Awami a permitir supervisão eleitorais independentes, prática comum até que o partido governista, o eliminara.

Além de sérios problemas políticos que questionam seriamente a qualidade democrática do país, Bangladesh sofre atualmente uma elevada inflação, um dos fatores que provocou lutas sindicais intensas, em especial de trabalhadores no setor de vestuário.[1]

Até 25.000 pessoas participaram das manifestações, que obrigaram a fechar, pelo menos, 100 fábricas. Enfrentaram a violência policial. Ao menos duas pessoas morreram e muitas outras ficaram feridas.

Estes são apenas dois dos vários processos eleitorais que devemos ter durante o ano de 2024 em 76 países do mundo, que representam, mais ou menos a metade da população mundial.

Alguns dos países mais populosos do mundo estarão de eleições, como é o caso da Índia, Indonésia, Estados unidos, Brasil, Paquistão, Rússia, México e Bangladesh, os quais, somados aos dezoito países africanos que votarão este ano e os 27 europeus que participam das parlamentares regionais, somam cerca de 4.000 milhões de pessoas habilitadas para votar.

Na Europa, a atenção se centra tanto na eleição do Parlamento Europeu, onde se escolhem os 705 deputados que compõem o órgão legislativo da União Europeia, e pode significar a acentuação do rumo posições cada vez mais reacionárias da UE.

Além disso, haverá eleições nacionais no Reino Unido (ainda sem data precisa), Bélgica, Áustria, Croácia e Portugal, que escolherão novos governos. Na Alemanha não haverá eleições gerais em 2024, mas sim comícios em três estados do leste do país, que concentrará a atenção para as possibilidades de crescimento interior.

No continente americano, teremos várias eleições nacionais, algumas com resultados previsíveis, mas outras com final aberto.

O 4 de fevereiro, O Salvador, o primeiro país do continente em realizar eleições em 2024 e já se sabe que o vencedor será o atual presidente Najib Bukele, apesar de que o artigo 154 da Constituição estabelece que “O mandato presidencial é de cinco anos e começará e terminará no dia primeiro de junho, sem que a pessoa que tenha exercido a Presidência possa continuar em suas funções, nem um dia a mais”.

Bukele superou a proibição constitucional da reeleição com o mecanismo de pedido de licença, entre 1 de dezembro de 2023 a 31 de maio de 2024, embora em sua própria solicitação assegurou que continuará monitorando o governo nacional.

No mesmo dia 4 de fevereiro na Costa Rica terá lugar as eleições municipais onde se escolhem prefeitos, curadores e outros encargos, em todas as províncias do país.

Em 5 de maio, no Panamá, o corpo eleitoral dará a sua opinião para escolher o novo presidente, bem como a renovação de todo o parlamento. Além disso, você vai escolher uma Assembleia Constituinte para reformar a Carta Magna panamenha. As eleições ocorrem quando o país está apenas saindo de um longo período de intensos protestos e mobilizações, as mais importantes, que é lembrar-se de um muitos anos, que obrigaram ao atual governo a recuar nas medidas que facilitam a mineração em áreas de alto valor ecológico.[2]

Entre 19 de maio e 30 de junho (primeira e segunda volta), haverá eleições na República Dominicana. Também neste caso, compete o atual presidente Luis Abinader. Um de seus principais concorrentes também tem experiência de governo, já que Leonel Fernández foi duas vezes presidente entre os anos de 2004 a 2012.

Outra certeza é registrado no México, já que no mês de junho, o país elege, pela primeira vez, uma mulher para ocupar a presidência, já que os dois principais candidatos são mulheres: Claudia Sheinbaum, que tem exercício o cargo máximo na Cidade do México, e apresenta-se pela coalizão de governo MORENA; pela coalizão opositora Frente Ampla, Xochtil Gálvez, que recebe o apoio do PRI, PAN e outros partidos.

Além do acima referido, no México, há dois outros aspectos peculiares: por um lado, que o atual presidente, apesar de contar com amplo apoio na sua gestão, não haverá de buscar a reeleição, Além disso, as duas mulheres que irão concorrer pela presidência foram escolhidas em internas partidárias que utilizaram o sistema de pesquisas de opinião pública para ungirlas em suas candidaturas.

Na República Oriental do Uruguai, o processo eleitoral é extenso, já que começa no próximo mês de junho, com as eleições internas dos partidos políticos, da primeira volta das eleições onde se elegem presidente, senadores e deputados, será em outubro e, muito provavelmente, a segunda volta das eleições para escolher o cargo de presidente será no mês de novembro de 2024. O calendário eleitoral não vai lá porque no mês de maio do ano de 2025, a cidadania deve escolher as autoridades departamentais e municipais.

Também haverá eleições este ano na República Bolivariana da Venezuela, embora a data exata não foi determinada ainda.

No Brasil e no Chile, também haverá eleições regionais e municipais, embora não de corte nacional.

O percurso para o continente americano não pode terminar sem mencionar as eleições nos Estados Unidos da América, que terá lugar este ano 2024 culminando o dia 5 de novembro, quando, segundo o Colégio Eleitoral, que será o encarregado de escolher o novo presidente do país.

O ano de 2024, além desta sorte de maratona global eleitoral, vem marcado por profundas crises que não tem perspectiva de ser superados, e é mesmo provável que se aprofundem.

Por exemplo, o ano de 2023 foi quando registrou a temperatura mais alta do planeta desde que existem registros na matéria, pelo que, as iniciativas globais para atender e atacar as causas da mudança climática e o aquecimento global continuam sem jogar resultados concretos e tangíveis.

O ano de 2023, tem sido, também, de evidente imagem (em quantidade e características) de cenários de guerra, alguns deles, como o que ocorre na faixa de Gaza, difíceis de imaginar até há muito pouco tempo. A tendência para a amplificação dos conflitos, tanto em atores participantes, em população afectada, como em territórios que se incorporam como cenários de guerra, faz com que a não utilização da expressão guerra mundial é quase um capricho da linguagem mais do que uma descrição da realidade.

Poderia pensar-se que estes processos eleitorais, que incluem os de alguns dos países que estão em guerra ou que de uma forma ou de outra, participam dela, que incluem também vários dos países que geram as causas geradoras do impacto sobre a natureza que está causando severos danos (muitos coincidem em ambas as listas), deveria ser uma boa oportunidade para debater e mudar rumos que permitam algum resquício de chances de ter resultados distintitos aos atuais.

Paradoxalmente, quando mais se exigiria do debate sobre os temas centrais para o planeta, o ano eleitoral 2024, dificilmente não permite ver avanços a respeito, nem mesmo naqueles países que, por seu potencial econômico e militar, deveriam ser líderes nestes assuntos.

No entanto, a realidade é mutável, as demandas e necessidades da população mundial são cada vez mais urgentes, ao mesmo tempo em que a interligação econômica e social globalizada faz com que, as circunstâncias que acontecem em um determinado lugar, pode afetar imprevistamente em outros lugares, modificando contextos, o que pode ter implicações políticas e eleitorais.

E, além disso, os tempos atuais continuam a demonstrar que a organização das pessoas, além de estruturas partidárias, tem muito para dizer e contribuir para esta realidade tão complexa.

 

 

 

[1] Para obter mais informações, consulte “Bangladesh: Struggle for Minimum Wage and Decent Working Conditions”, https://www.lacommunis.org/bangladesh-struggle-for-minimum-wage-and-decent-working-conditions/

[2] Para obter mais informações, consulte “Panamanian court declares unconstitutional law 406 enabling mining exploitation in protected areas”, https://www.lacommunis.org/panamanian-court-declares-unconstitutional-law-406-enabling-mining-exploitation-in-protected-areas/