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Foto: gustavo9917 en Pixabay

Colômbia: Visita do Conselho de Segurança da ONU e tentativa de golpe de Estado em andamento

09 fevereiro, 2024 | Ricardo Changala

O Conselho de Segurança das Nações Unidas está visitando a Colômbia entre os dias 7 e 11 de fevereiro de 2024, com o objetivo de dar continuidade à implementação do Acordo Final de Paz, assinado em 2016.

Antes desta terceira visita do Conselho de Segurança ao país, o Representante do secretário-geral da ONU no país, Carlos Ruiz Massieu, afirmou que “a visita do Conselho de Segurança ocorre em um momento decisivo para a construção da paz no país. Apesar dos desafios, há uma vontade política renovada para a implementação integral do Acordo Final de Paz, e vários diálogos de paz estão em curso no âmbito da política de Paz Total. Além disso, a visita ocorre poucos dias após o ELN e o Governo da Colômbia anunciarem a prorrogação e fortalecimento do Cessar Fogo Bilateral, Nacional e Temporal”.

Um dos principais focos do Acordo está em seu capítulo étnico, relacionado à situação e direitos dos povos indígenas, afro-colombianos, palanqueros e rom. Portanto, além de outras gestões, a missão deve dirigir-se ao Vale do Cauca para se encontrar com autoridades estaduais e líderes dos povos originários.

A missão chega ao país em um momento particularmente complexo, no qual várias vozes, incluindo o próprio presidente Petro, denunciam tentativas de golpe de Estado, com a intenção de derrubar a administração atual através de diversas estratégias em andamento.

Em uma evidente demonstração dessa realidade política, a Secretaria-Geral da OEA emitiu um comunicado em 8 de fevereiro, condenando e repudiando as ameaças de interrupção do mandato constitucional do presidente Petro, ao mesmo tempo em que exige o abandono das tentativas por parte de diferentes atores políticos de prejudicar o processo democrático na Colômbia.

Há algum tempo, em uma entrevista, o presidente Gustavo Petro manifestou-se sobre o poder dos outros. A cada dia, essa afirmação é corroborada por várias vias, especialmente pelo tratamento dado ao desempenho presidencial pelos meios de comunicação convencionais, que constroem boatos infundados, descaracterizam negativamente ações governamentais ou silenciam completamente alguns avanços evidentes do atual governo.

É claro que Petro enfrenta altos e baixos, acertos e desacertos, muitas contradições em um país com décadas de guerra interna, violência aparentemente interminável e notáveis desigualdades socioeconômicas. No entanto, é igualmente claro que a classe política e econômica, ancorada no país, não perdoa por ele ter chegado à presidência e, sobretudo, por tentar ser coerente ao cumprir o que prometeu fazer.

Nesse contexto, a administração da justiça torna-se uma ferramenta-chave na construção de um Estado democrático e, por isso, tornou-se o centro do atual confronto político, que tem semelhanças com o que ocorreu recentemente em outros países da região e sugere uma possível tentativa de golpe de Estado, se não for detido a tempo.

A Procuradoria Geral da Nação suspendeu o ministro de Relações Exteriores de suas funções em 7 de fevereiro, com argumentos e procedimentos questionáveis. Nesse mesmo dia, Alvaro Leyva Durán enviou uma carta à Procuradora-Geral Margarida Cabelo Branco, anunciando sua renúncia imediata como consequência da suspensão provisória que recebeu.

Além disso, a Procuradoria-Geral tem se dedicado a “investigar” casos para criminalizar o presidente da República, o que, na Colômbia, como em quase todos os países do mundo, é proibido. A escolha do novo Procurador-Geral requer que o presidente envie uma lista e a Suprema Corte de Justiça escolha uma pessoa. Petro enviou uma lista de três mulheres (algo inédito na história colombiana), tecnicamente e eticamente bastante próximas.

No final de janeiro, soube-se que 13 dos 23 juízes da SCJ deixaram em branco seus votos, ou seja, nem sequer se sabe se leram os antecedentes das 3 pessoas propostas. Não há dúvida de que a intenção é perpetuar no cargo o atual Procurador Francisco Barbosa, que tem usado o cargo para proteger seus chefes políticos, impedindo suas ações, além de envolver-se em várias práticas corruptas e abuso dos bens do Estado, como destinando recursos a boa parte de sua família, incluindo acompanhantes, seguranças, carros blindados, entre outros. Barbosa até teve uma funcionária do Ministério Público como empregada doméstica em sua casa.

O poder fático gostaria que, se não puderem manter Barbosa, pelo menos a vice-fiscal Mancera permaneça no cargo, mas em nenhum caso uma pessoa sobre a qual não possam exercer controle absoluto.

Múltiplas organizações sociais reagiram e exigem a escolha imediata da nova Procuradora dentro da lista proposta por Petro. Em 8 de fevereiro, organizações sociais, sindicais e populares colombianos marcharam em Bogotá e em várias cidades do país em apoio ao presidente Gustavo Petro, exigindo que a nova procuradora-geral seja eleita pela Corte Suprema de Justiça (CSJ).

Essas mobilizações também foram convocadas em rejeição à investigação aberta pelo Ministério Público, a Federação Colombiana de Educadores (FECODE), que qualifica essa investigação como política, uma vez que todas as suas ações estão em conformidade com a legislação vigente.

A situação demonstra a complexidade da realidade colombiana, as múltiplas tensões enfrentadas tanto pelos governantes quanto pela cidadania em geral, e a necessidade de abordar os problemas conjunturais sem perder de vista os grandes temas históricos e estruturais que continuam sendo prioritários para estabelecer uma base para a construção de um país melhor, mais inclusivo, pacífico e democrático.