No dia 3 de outubro de 2025, o Centro Nacional de Inteligência Artificial (CENIA) do Chile e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apresentaram a terceira edição do Índice Latino-Americano de Inteligência Artificial (ILIA).
O ILIA está estruturado em três dimensões:
- Fatores Habilitadores (infraestrutura digital, talento humano e dados),
- Pesquisa, Desenvolvimento e Adoção, e
- Governança.
A partir de mais de cem subindicadores, o ILIA 2025 oferece uma visão detalhada sobre os avanços, lacunas e oportunidades estratégicas no desenvolvimento da IA na América Latina e no Caribe.
Alguns Avanços
A edição 2025 destaca alguns aspectos positivos na região, como:
- A melhoria dos ecossistemas de pesquisa, refletida no aumento dos programas de doutorado e mestrado na região;
- A consolidação da penetração da internet, que facilita o rápido crescimento do uso de aplicações de IA nos países analisados pelo ILIA;
- A retomada vigorosa do investimento em centros de dados de diferentes portes, com investimentos públicos que somam quase 200 milhões de dólares e anúncios privados que superam 8 bilhões de dólares nos próximos 10 anos.
Limitações Notáveis
Apesar dos avanços, o relatório aponta a falta de ações mais decisivas e investimentos à altura da urgência tecnológica atual, mesmo diante de evidências do impacto positivo da IA na produtividade, no emprego, na qualidade de vida e na criação de novos negócios.
Baixo Investimento
Nenhum país da região supera a média mundial de investimento em IA como proporção do PIB per capita, e a média regional é seis vezes inferior a esse patamar.
A região representa 6,6% do PIB mundial e 8,8% da população mundial, mas responde por apenas 1,12% do investimento global em IA.
A infraestrutura digital, embora tenha melhorado, ainda é desigual.
O Brasil concentra mais de 90% da capacidade de computação de alto desempenho da região, enquanto países como Uruguai, Colômbia e Costa Rica apresentam melhores indicadores per capita, embora ainda insuficientes em termos absolutos.
Falta de Formação Técnica
Embora a alfabetização digital básica e o interesse pela formação técnica tenham crescido, a disponibilidade de especialistas em IA não acompanhou esse ritmo.
A proporção entre alfabetização geral e formação avançada é desequilibrada: para cada pessoa especializada em IA, existem pelo menos quatro com conhecimentos gerais, o que revela um gargalo formativo que limita a capacidade da região de desenvolver soluções próprias, relevantes e escaláveis.
Além disso, 13 dos 19 países analisados ainda não integraram habilidades de IA nos níveis educacionais básicos, e 11 não oferecem programas de doutorado em IA.
Em termos de produção científica, a região apresenta alta concentração: Brasil e México concentram 68% dos pesquisadores ativos, e, junto com Argentina, Chile e Colômbia, reúnem 90% das publicações.
Baixa Produção de Conteúdo
A falta de abertura, padronização e governança de dados dificulta o desenvolvimento de soluções locais de IA, reduz a transparência e limita o avanço da ciência aberta.
A interoperabilidade e a rastreabilidade de dados avançam lentamente, e os debates regulatórios, embora necessários, tendem a anteceder a capacidade técnica, gerando marcos normativos muitas vezes inaplicáveis ou restritivos.
Sustentabilidade Não Considerada
A sustentabilidade, tanto ambiental quanto social, continua sendo um componente ausente na maioria das políticas de IA.
Apesar do crescente impacto ambiental associado ao treinamento de grandes modelos de linguagem, a dimensão ecológica ainda não foi integrada como princípio orientador das estratégias nacionais.
O desafio é articular as políticas de digitalização com políticas de desenvolvimento produtivo, de forma que a IA gere ganhos em produtividade, inovação e cadeias de valor regionais, mas também em inclusão social, sustentabilidade ambiental e fortalecimento institucional.
Fechar as lacunas em infraestrutura, talento e governança, levando em conta critérios de sustentabilidade e equidade de gênero, bem como fortalecer a cooperação regional, serão fatores fundamentais para que a IA se torne um motor de transformação estrutural.
Índice Regional
Os resultados revelam um cenário heterogêneo: enquanto alguns países consolidam posições de liderança, outros avançam de forma intermediária ou permanecem em estágios iniciais.
Essa diversidade revela o potencial da IA como motor de desenvolvimento, mas também o risco de uma fragmentação digital que reproduza desigualdades históricas.
O índice classifica os países em três categorias, conforme seu grau de maturidade:
- Pioneiros: com mais de 60 pontos, destacam-se pelo investimento em infraestrutura tecnológica, talento especializado, pesquisa, inovação e governança.
- Adotantes: com pontuações entre 35 e 60, mostram avanços intermediários, mas ainda enfrentam lacunas críticas, especialmente em capacidade de pesquisa e inovação.
- Exploradores: abaixo de 35 pontos, possuem ecossistemas ainda incipientes e capacidade limitada de implementar IA.
Segue o gráfico com as notas por país.

Governança
No que diz respeito à governança, o ILIA 2025 apresenta as seguintes constatações:
- Coexistem duas realidades: países com estratégias consolidadas (Brasil, Chile, Uruguai) e outros sem uma rota claramente definida.
- A maioria das estratégias nacionais carece de mecanismos eficazes de implementação.
- A região participa pouco de organismos internacionais de padronização, o que limita sua influência nas regras globais.
- Em cibersegurança e proteção de dados, houve avanços legais, mas as capacidades técnicas continuam insuficientes.
- A sustentabilidade segue ausente como princípio orientador das políticas de IA, apesar do crescente impacto ambiental.
Recomendações
O ILIA 2025 apresenta uma série de recomendações para melhorar o cenário atual:
- a) Integrar a IA nas políticas de desenvolvimento produtivo.
b) Eliminar lacunas estruturais em infraestrutura, talento e governança.
c) Promover modelos de desenvolvimento inclusivos e sustentáveis.
d) Criar regulações que equilibrem direitos, inovação e desenvolvimento.
e) Estimular uma cooperação regional eficaz, especialmente em formação, padronização e ciência aberta.
O relatório destaca que estamos diante de uma situação única e irrepetível que, ao contrário de revoluções tecnológicas anteriores, não depende exclusivamente de matrizes produtivas avançadas — o que permite que países com diferentes estruturas econômicas participem da transformação.
No entanto, sem políticas públicas decididas e colaborativas, o risco de aprofundar as desigualdades existentes é elevado.